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Nova escola com novos hábitos?


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É grande a tentação de um professor recém-formado de recorrer ao emprego de velhas práticas pedagógicas quando se depara com situações desafiadoras, para as quais não encontra soluções. Contudo,existem docentes que têm a oportunidade de construir novas metodologias que resultam numa educação inovadora e com o objetivo de exemplificar estas novas práticas, apresentamos neste texto, informações relacionadas ao conteúdo de dois vídeos da Web Série “Hora do Recreio”, produzido por Anderson Lima¹ que atua junto ao Projeto Âncora² em Cotia/SP. Os vídeos nos levam a refletir sobre novas metodologias de ensino e nos remetem a pensar em novas possibilidades de escola.

O primeiro vídeo“Em que ano você está?”exibe a história do primeiro dia de aula no Projeto Âncora,de uma menina que estava inserida em um modelo de escola dissemelhante do modelo adotado pelo Projeto. Na trama, a nova aluna chega à escola e pergunta aos novos colegas sobre o local para o qual deve se dirigir para se integrar à fila. Além disso, indaga a outra criança: Onde estão os alunos da sua série? Perguntas como essas, apesar de comuns em escolas tradicionais, não fazem sentido para aqueles alunos que pertencem a uma realidade que não se utiliza dessas práticas. Verificamos, também, que a imersão de um aluno de uma escola tradicional em outra que apresenta uma pedagogia diferenciada deste modelo “padrão”, causa estranhamento coletivo uma vez que, neste caso,os alunos não estão inclusos em um mesmo espaço definido por idade ou série/ano e, em princípio,supõe-se que não partilham de experiências comuns,como estudantes.

O segundo vídeo, denominado “Minha amiga repetente” retrata a história de uma aluna do Projeto Âncora, ansiosa com a chegada de uma amiga “repetente”,que veio transferida de outra instituição. Ao contar este caso aos seus amigos do Projeto, os mesmos não compreendem o significado desse termo e chegam a levantar a hipótese da menina ser uma vidente que consegue retroceder no tempo.

O vídeo nos leva a refletir sobre as formas de avaliação utilizadas por boa parte das nossas escolas e vivenciadas pelos alunos das instituições tradicionais,que são submetidos aprovas repletas de perguntas e respostas e passam a acreditar que este é o único meio de avaliar sua aprendizagem. Consequentemente, a reprovação e o medo de “repetir o ano” interferem na vida escolar desse aluno promovendo frustração diante do insucesso escola.

Em síntese, ambos os vídeos apresentam um contraste entre as percepções de estudantes inseridos em escolas com realidades diferentes e nos levam a ponderara diferenciação que há entre as práticas pedagógicas adotadas em cada um desses contextos. Como o Projeto Âncora é uma escola com um projeto pedagógico diferenciado do modelo tradicional de ensino percebe-se, neste cenário,que os alunos não são distribuídos por séries, são impelidos a refletir sobre diferentes questões e a agir com autonomia. A ideia de que a escola tem o dever de preparar o aluno para o mercado de trabalho ou para ser aprovado no vestibular não é foco daquele espaço, pois o Projeto entende que a escola tem o dever deformar as novas gerações para a vida em sociedade, seguindo princípios como o respeito, a solidariedade, afetividade, honestidade e responsabilidade. Este modelo foi inspirado na Escola da Ponte (Portugal) fundada pelo professor José Pacheco e colaboradores.

Sabemos que rever e reformular nossas práticas pedagógicas não é tarefa simples quando temos de um lado um sistema educacional que recomenda a adoção de metodologias inovadoras, mas,ao mesmo tempo, age no sentido do controle das práticas docentes por meio de instrumentos como avaliações de larga escala. Além disso, temos um conjunto de professores, estudantes e equipe pedagógica acostumados a um padrão arcaico de ensino, que, apesar de insatisfeitos com o modelo vigente, normalmente, desconhece ou desacredita na possibilidade de realizar um trabalho com outro enfoque. Inversamente, afirmamos que em nossa experiência com projetos interdisciplinares em escolas públicas, verificamos sistematicamente que o

papel do professor é de fundamental importância para o desenvolvimento da prática interdisciplinar, vencendo velhos hábitos e procurando refletir novas práticas educativas. A sua prática deverá mover-se juntamente com os demais professores e alunos, envolvendo todos na construção de conhecimentos (GERIR, 2003, p.23).

Finalizamos nossa exposição, ressaltando que a história apresentada nos vídeos e nossa experiência pessoal com projetos interdisciplinares fazem-nos refletir constantemente sobre as limitações do modelo tradicional de ensino frente à compreensão do educando como sujeito ativo na produção do conhecimento. Destacamos que, seja por meio da interdisciplinaridade, da realização de projetos ou de outras abordagens é preciso rever nossas concepções a respeito do papel da escola e do professor em nossa sociedade, no sentido de romper com a utilização de práticas cristalizadas que legitimam a passividade dos estudantes, a memorização e a mera reprodução de informações externamente produzidas.

Tamires Mendes Caldas

(Licenciando em História-UFF e bolsista PET/Conexões de Saberes UFF)

Referências:

GERIR, Pedagogia de Projetos, Salvador, v.9, n.29, p.17-37, jan./fev.2003. Disponível em: <http://www.liderisp.ufba.br/modulos/pedagproj.pdf>.

EM QUE ANO VOCÊ ESTÁ? Produção de Anderson Lima. 4’ 21’. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=GVGyJu0PDrs&spfreload=10>. Acesso em 09 de julho de 2016.

MINHA AMIGA REPETENTE. Produção de Anderson Lima. 3’ 51’’. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=LbpzuImgcpw&spfreload=10> Acesso em 09 de julho de 2016.

PROJETO ÂNCORA. Disponível em: <http://www.projetoancora.org.br/index.php?lang=port>. Acesso em 09 de julho de 2016.


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