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Iniciando o projeto interdisciplinar

Sabemos que a escola tradicional, baseada na memorização e no conteudismo, muitas vezes, gera desinteresse e desmotivação. A partir disso, percebe-se uma gama de teorias e metodologias referentes ao processo educacional que desconstroem esse enfoque tradicional de ensino.


Inspirados por nossas experiências e pelos estudos da literatura, em 2015 desenvolvemos um projeto interdisciplinar em uma escola pública localizada no município de Niterói/RJ. Para a realização desse trabalho mobilizamos e produzimos saberes e conhecimentos ligados à pedagogia de projetos, o que foi essencial para a construção de todo o processo de teorização e produção de práticas do grupo PET. Assim, o Referencial Teórico destinado à criação do projeto interdisciplinar teve como primeira leitura de base o Capítulo 3 do livro “Planejamento em destaque: análises menos convencionais”. Neste capítulo, intitulado “Trabalhando com projetos” a autora Maria Carmem Silveira Barbosa (2011) faz uma breve revisão teórica de questões que envolvem a pedagogia de projetos e apresenta reflexões em termos do planejamento e do currículo. Esse estudo foi essencial para a construção de uma base teórica que colaborou para todo o processo de aprendizagem de nosso grupo. Em seu texto, Barbosa evidencia um movimento importante na história da educação denominado Escola Nova, que reuniu educadores contemporâneos com novas propostas educacionais. A autora descreve que os fundadores da Escola Nova, problematizaram o papel do educador e do educando, apresentando duras críticas ao tradicionalismo escolar. Esses estudiosos assinalaram também pontos negativos dos conteúdos preestabelecidos, apontando os métodos ultrapassados e a rotina de lições como centro daquele modelo de ensino. Para superar esses problemas, elaboraram novas propostas de organização da atividade escolar, da didática, do tempo e do espaço escolar, bem como sugeriram materiais didáticos variados. Podemos verificar parte dessas reflexões nos esclarecimentos da autora:

Os escolanovistas procuraram criar formas de organização do ensino que tivessem as seguintes características: a globalização, o interesse imediato do aluno, a participação dos alunos e da comunidade, uma reorganização da didática e do espaço da sala de aula (BARBOSA, 2011, p. 44).

No texto é ressaltada a possibilidade de encontrar diferentes tipos de caminhos voltados à inovação e à organização do ensino, tais como: as unidades didáticas, os centros de interesse e os projetos. Para realizar estes esclarecimentos a autora recorre aos pensadores da Escola Nova, que esquematizaram estratégias que superavam o modelo da escola tradicional e suas inadequações. Dentre eles destaca: Ovide Decroly, John Dewey, Célestin Freinet, Maria Montessori e outros.

Como exemplo de uma das propostas criadas na época, chama atenção para os “centros de interesse” de Decroly, cujas características envolviam a valorização da integração dos conhecimentos, a faixa etária e as necessidades das crianças.

Outro importante pensador deste movimento foi o filósofo e pedagogo John Dewey, conhecido como mentor da pedagogia de projetos, que além de ressaltar a importância do contexto na vida dos sujeitos, entendia a sala de aula como uma “comunidade em miniatura”. Em decorrência disso, pensou em um projeto educacional baseado na preparação da criança para a vida, oferecendo algumas situações nas quais o aluno terá meios, instrumentos e condições para resolver prováveis situações-problema. Para ele "[...] deveria haver uma constante inter-relação entre as atividades escolares e as necessidades e interesses das crianças e das comunidades" (BARBOSA, 2011, p. 45). Embora Dewey tenha construído as bases da pedagogia de projetos, foi Kilpatrick quem popularizou essa nova proposta pedagógica.

Celestin Freinet também foi um dos pensadores que contribuíram para a pedagogia de projetos. Queria que os alunos analisassem a realidade na qual estavam inseridos e assim os projetos seriam construídos com o objetivo de inovar, tendo uma proposta educativa baseada numa relação conjunta entre alunos e comunidade, dando mais autonomia aos educadores.

Barbosa cita que a pedagogia de projetos sofreu várias críticas em relação à dificuldade de se adaptar aos currículos definidos, desse modo criou-se uma estratégia denominada “unidade didática” que dava condições de adaptar a pedagogia de projetos à estrutura das escolas. A autora esclarece que após tanto tempo, estamos voltando a falar de projetos e lembra que é importante que esta estratégia seja ressignificada, considerando o contexto sócio-histórico.

Maria Carmen Silveira Barbosa (2011) fundamenta que “[...] as teorias de aprendizagem atuais apontam para a superação da polarização entre o inato e o ambiental, afirmando que a inteligência é construída socialmente, a partir das possibilidades de interações que os sujeitos têm com o ambiente físico e social onde estão inseridos” (p. 48). Desse modo, por meio da possibilidade de interações, da convivência em nosso meio social teremos a oportunidade de descobrir o que nos interessa e o que melhor fazemos.

No texto identificamos estudos que apontam o aumento do interesse pela abordagem interdisciplinar, por oferecer a possibilidade de aprender sob uma perspectiva que rompe com a fragmentação do conhecimento. Em nossa compreensão, este entendimento está em sintonia com a pedagogia de projetos, tendo em vista que esta estratégia “[...] pode ser uma possibilidade interessante em termos de organização pedagógica para completar essa visão multifacetada” (p. 49).

Um ponto importante que podemos observar no texto refere-se à inadequação da pedagogia de projetos como possibilidade de engessamento das práticas escolares, uma vez que é necessário tomar por base as experiências socioculturais e as relações diversas das crianças e de seus contextos. Assim, os projetos não podem se restringir a uma prática irreal, obrigatória, fechada e mecânica. Inversamente, são ferramentas capazes de suscitar práticas inovadoras. Neste sentido, podemos dizer que não existe uma única forma de planejar a pedagogia de projetos, sua estrutura varia em acordo com os objetivos propostos e as experiências dos grupos envolvidos. A partir da prática escolar, dos conhecimentos adquiridos e da realidade dos alunos, obtém-se as informações necessárias para focar em determinado objetivo. Com isso deve-se trabalhar de forma globalizada ou interdisciplinar.

Em seu trabalho, Barbosa (2011) expõe algumas informações relacionadas à organização dos projetos a serem desenvolvidos com as crianças, que envolvem: definição do tema, a partir de propostas e debates com a participação dos pais, professores e comunidade; planejamento do trabalho, baseado na ordenação coletiva da abordagem do tema e do planejamento das tarefas e do tempo de execução; coleta de informações, buscando as mais variadas informações em relação ao tema definido; organização das informações; apresentação e comunicação, a partir da exposição e divulgação dos materiais coletados e organizados; avaliação, sendo feita em diferentes momentos de tal modo, que permita analisar o processo, os resultados e verificar se os objetivos foram contemplados. Enfatizamos que a pedagogia de projetos pode ser implementada nos mais variados graus de ensino e ter clareza sobre a função do professor neste processo é imprescindível. Para a autora esse profissional deve ter um papel de guia, de ouvinte das necessidades, de organizador dos espaços e tempos e de provocador de conexões entre os temas em estudo e as realidades vividas. Portanto, inferimos que a pedagogia de projetos, sendo uma proposta global, tende a intensificar a inovação educacional, pautando as diferenças culturais, reconhecendo as crianças como sujeitos ativos, permitindo aprender, ensinar, contextualizar e adquirir conhecimentos com a participação de toda a comunidade.

Finalizando, ressaltamos que apesar das críticas produzidas acerca das escolas tradicionais, ainda prevalece a adoção de práticas relacionadas a esta abordagem, que desconsidera os alunos como sujeitos do processo de aprender. Nosso objetivo é trabalhar na contramão deste enfoque e construir, continuamente, práticas pedagógicas que valorizem a expressão das crianças e dos jovens sobre suas dúvidas, seus conhecimentos e interesses, em articulação com os conteúdos abordados. Práticas que promovam reflexões, o estabelecimento de relações e análises de situações variadas em acordo com o reconhecimento, o respeito e a valorização das diferenças.


A autora Maria Carmem Silveira Barbosa, possui graduação em Pedagogia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS (1983), especialização em Alfabetização em classes populares pelo GEEMPA (1984) e em Problemas no Desenvolvimento Infantil pelo Centro Lidia Coriat (1995), mestrado (1987) e doutorado (2000) em Educação pela UFRGS e Universidade Estadual de Campinas, respectivamente. É pesquisadora do Grupo de Estudos em Educação Infantil – GEIN, militante do Movimento Interfóruns de Educação Infantil e professora da UFRG (shttps://periodicos.ufsc.br).

Por Davi Ferreira Nogueira

(Licenciando em História-UFF e bolsista PET/Conexões de Saberes UFF)

Juliana Silva Amorim

(Licencianda em Letras-UFF e bolsista PET/Conexões de Saberes UFF).

Bibliografia:
BARBOSA, M. C. S. Trabalhando com projetos. In: Planejamento em destaque: análises menos convencionais. ZEN, D. M. I. H.; XAVIER, M. L. M. (Orgs.) Porto Alegre: Editora Mediação, 2011.

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